‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022
An iPod found and a symbolic journey
11.2025
Juliana Barreto is Revenue Director at Tátil Design and Professor at IED RJ
Juliana Barreto é Diretora de Revenue na Tátil Design e Professora no IED RJ
Texto em Português e Inglês
Text in Portuguese and English
[EN]
From time to time, I do a big clean-up at home. I like to empty the cabinets, look at each item up close, reflect on what still makes sense, and decide what can already come to an end — whether through disposal or donation.
In this latest round of tidying up, I came across an item I hadn’t seen in a long time: my iPod. Yes, a silver iPod Shuffle, working perfectly well in 2025. And it wasn’t just any encounter. I don’t know if it’s because I turned 40 this year or due to some particularly sensitive lunar alignment (for those who believe), but holding that tiny object in my hands transported me to another time and brought an unexpected and rather complex reflection. Allow me to share a bit of the symbolic journey this encounter offered me.
For context: the one who bought that iPod was “Intern Juliana” — a much earlier version of the Juliana I am today. She saved money for months, asked a friend to bring it from a trip, and spent hours curating the songs that would go into it to accompany her on bus rides to college.
Later, the same iPod came along when I was a trainee, when I was unemployed, and when I started everything over again. It was always there, changing rhythms and artists depending on the time. Sometimes more rock, other times pop or dance. Even indie rock made its way into the playlist, influenced by the fads of the era. Over time, the iPod was set aside, replaced by the smartphone and music streaming, and this beloved and once-coveted object ended up in a closet drawer along with other forgotten items.
Years later, the same iPod arrived in the hands of today’s Juliana — with a different title, other degrees and references — and became a powerful trigger for reflecting on how an object is never just an object. It carries memories, life phases, identity, and emotion, functioning as a true record of our personal story.
Just like the Belgian surrealist artist René Magritte did in his painting “Ceci n’est pas une pipe” — an illustration of a pipe accompanied by the phrase “this is not a pipe” — inviting us to reflect on the object and its representation, the iPod became for me a symbol loaded with meaning.
For me, “Ceci n’est pas un iPod” — this is not just an iPod — but a full reflection of who I was, an object that encapsulated moments of my life and my symbolic consumption.
Today, it still represents me — but in a different way.
[PT]
Um Ipod encontrado e uma viagem simbólica
De tempos em tempos faço uma grande limpeza na minha casa. Gosto de esvaziar os armários para olhar cada item de perto, refletir sobre o que ainda faz sentido e decidir o que já pode encerrar seu ciclo, seja por descarte ou doação.
Nesta última rodada de arrumação, me deparei com um item que há muito tempo não via: meu iPod. Sim, um iPod Suffle prata, funcionando perfeitamente em pleno 2025. E não foi um encontro qualquer. Não sei se são os meus 40 anos completados este ano ou alguma posição lunar particularmente sensível (para quem acredita), mas ter aquele pequeno objeto nas mãos me transportou para outro tempo e trouxe uma reflexão inesperada e um tanto complexa. Peço licença para vocês enquanto compartilho um pouco dessa viagem simbólica que esse encontro me proporcionou.
Para contexto: quem comprou esse iPod era a “Juliana estagiária” — uma versão muito anterior da Juliana de hoje. Ela guardou dinheiro durante alguns meses, pediu a um amigo que o trouxesse de viagem e passou horas fazendo a curadoria das músicas que estariam ali dentro, para acompanhá-la nas viagens de ônibus para a faculdade.
Depois, o mesmo iPod me acompanhou quando fui trainee, quando fiquei desempregada, quando comecei tudo de novo. Ele sempre esteve lá, variando em ritmos e artistas conforme a época. Em alguns momentos mais rock, em outros mais pop ou dance. Até Indie rock entrou na playlist, influenciado pelas “modinhas” da época. Com o tempo, o Ipod foi deixado de lado, trocado pelo smartphone com músicas em streaming e este objeto tão querido e desejado foi deixado em uma porta de armário junto com outros objetos.
Anos depois, o mesmo iPod chegou às mãos da Juliana atual — com outro cargo, outras formações e referências — e se tornou um grande gatilho para refletir sobre como um objeto nunca é apenas um objeto. Ele carrega memórias, fases da vida, identidade e emoção, funcionando como um verdadeiro registro da nossa história pessoal.
Assim como o artista surrealista belga René Magritte fez em seu quadro “Ceci n’est pas une pipe” — uma ilustração de um cachimbo acompanhada da frase “isso não é um cachimbo” — nos convidando a refletir sobre o objeto e sua representação, o iPod para mim se tornou um símbolo carregado de significado.
Para mim, “Ceci n’est pas un iPod” — isso não é apenas um iPod — mas todo um reflexo de quem eu era, um objeto que encapsulava momentos da minha vida e meu consumo simbólico. Hoje, ele continua me representando, mas de outra forma.
Para a Juliana de agora, ele não é mais apenas uma conquista ou um companheiro musical nas viagens de deslocamento. Tornou-se um símbolo da minha evolução, um registro de uma trajetória que nem sempre foi fácil ou linear, mas cheia de acontecimentos que moldaram quem sou e me trouxeram até aqui.
E é aí que reside a minha paixão por estudar consumo: porque não se trata apenas de compra. É sobre quem somos, como queremos nos mostrar no mundo, sobre memória e pertencimento. Isso traz uma grande responsabilidade para quem trabalha com marcas e consumo: o que fazemos impacta o consumo, sim, mas também influencia todo esse meio simbólico e, consequentemente, o ambiente em que vivemos.
Assim, o que criamos vai além do que chamamos de branding. Como diria: “Ceci n’est pas branding” — isso não é apenas branding —, mas uma busca por conexões genuínas (e idealmente positivas) entre marcas e pessoas, ligando objetos ou serviços à forma como seus detentores desejam se apresentar ao mundo.
P.S.: Aliás, existe uma tendência crescente de pessoas retomando seus iPods e outros dispositivos antigos, buscando uma experiência musical sem apps e sem notificações. Confesso que, ao reencontrar o meu iPod, também senti essa vontade de resgatar o hábito — mas agora com novos ritmos e novos caminhos.
Ficha Técnica
Texto:
Juliana Barreto
Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido e Bruno Cesar
Assessoria:
Flávia Nakamura