Estratégia

Por milhares de anos, exercitamos nossos sentidos e nossa capacidade cognitiva para ler os sinais da natureza, das pessoas e do céu. Combinados com nossa fé e imaginação, desbravamos o desconhecido, fundamos civilizações, transformamos terra em naves espaciais, construindo uma trajetória sem precedentes na história de 3,8 bilhões de anos da vida no planeta. Tudo a partir das decisões que tomamos. Com o tempo, ferramentas e acessórios foram refinando nossa capacidade de fazer as melhores escolhas. A bússola e o astrolábio aumentaram radicalmente nossas habilidades de navegação. O raio X e a ressonância magnética revolucionaram os diagnósticos e por aí vai. Mas, de alguma forma, o espaço da decisão continuava em nossas mãos. Para o bem e para o mal. Até agora. Se hoje já não vale mais a pena discutir com o Waze, ou com o Tinder (como era pré-histórico ficar enchendo a cara na balada na esperança de esbarrar com a cara metade!), isso fará ainda menos sentido com o boost que invade nossas vidas com a inteligência artificial.

Regeneração. Essa, assim como muitas outras palavras do universo da sustentabilidade, vem sendo esvaziada de sentido por usos superficiais, equivocados e oportunistas, espalhados em uma avalanche de textos, peças publicitárias e artigos sobre a bandeira ESG. No dicionário, regeneração significa “dar nova existência a; melhorar; corrigir; revivificar”. Definitivamente, não faltam demandas por regeneração em nossa realidade exaurida e superexplorada em todos os níveis, do físico ao espiritual, do moral ao ambiental. Começando pela regeneração da própria palavra regeneração!

Era o período de seca na savana. Uma zebra observa com inveja uma girafa comendo as folhas ainda tenras da copa das árvores. Na mesma hora ela pensa: “o que eu poderia fazer para que meu pescoço crescesse?”. Ela quer o que a girafa tem. Para isso, tem que imitá-la. Com certeza, é mais interessante ser uma girafa que enxerga tudo de cima, come o que ninguém consegue comer, do que essa zebra sem graça. Quase um genérico enfeitado de um cavalo. E, claro, o Instagram da floresta não para de mostrar girafas e seus múltiplos talentos. Foi só depois de muitas sessões de terapia com a coruja que ela conseguiu finalmente enxergar que só daria para ser feliz se ela investisse em ser a melhor zebra que pudesse ser.

Está na hora de usarmos todo o talento criativo que nos foi presenteado pela evolução para investir em ideias e soluções que possam representar novos convites que se transformem em novos comportamentos. Ou, como diz Brian Collins, referência do bom design norte-americano: torne o futuro tão irresistível que ele se torne inevitável.

“Chegou a hora de usar todo o incrível repertório de talentos que acumulamos por meio das ciências, da arte, da cultura, da capacidade empreendedora que os negócios representam, da nossa força criativa, para nos comprometer radicalmente em redesenhar nossas prioridades e modo de vida. É difícil imaginar um propósito mais mobilizador do que seguirmos desfrutando da incomparável oportunidade cósmica de viver nessa comunidade interdependente chamada Terra.”

“A hora chegou! Temos que começar a desenhar futuros desejáveis, sob risco de sermos vítimas do nosso próprio pessimismo, tão explícito em toda a ficção científica que temos produzido nos últimos tempos. O futuro foi e será sempre produto da nossa imaginação. Precisamos torná-lo irresistível para que ele seja inevitável.”

Vivemos sob uma hegemonia estética. Desde cedo aprendemos a gostar de coisas e a não gostar de outras. Somos formados à partir de uma cultura eurocentrica. Nossa escola de Design foi a Bauhaus, onde aprendemos sobre as Leis da Boa Forma.

Mas será que essas leis se aplicam igualmente a todas as culturas? Descentralizar o olhar é abrir espaço para muitas outras formas de manifestar a verdade de cada cultura. Ou seja, da liberdade de manifestar a sua ética através da sua própria estética.