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ENTRUMPY: the autoimmune collapse of society and the regenerative potential of nature

The Web Summit, the Venice Biennale, Montezuma, and the Singularity

Tudo começou com um sachê de ketchup. O ano era 1986. Eu tinha mudado para o curso de design da PUC/ Rio depois de ter entendido que o sonho de ser engenheiro naval e desenhar veleiros não era para mim (levei três semanas para amarelar para o Leithold, livro de cálculo de 600 páginas escrito em uma língua alienígena). Estava no segundo período de desenho industrial e tinha que escolher um tema para o meu próximo projeto.

Naquela tarde, na cantina do IAG comendo um pedaço de pizza, me vi travando uma batalha com um sachê de catchup (sim, cariocas cometem essa heresia de colocar ketchup na pizza!), e claro que ele venceu!Todo lambuzado de vermelho, me lembrei que tinha tido, poucos dias antes, outra experiência traumática tentando abrir um lacre de alumínio de um vidro de xarope. Pronto, meu tema estava escolhido. Iria fazer um projeto sobre embalagens mais inteligentes.

No dia 7 de setembro de 2016, às oito da noite, a contagem regressiva começava: 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, 0. Nesse exato momento, o atleta americano Aaron Wheelz dropa uma mega rampa de skate de 30 metros, construída sob a supervisão de Bob Burnquist, e salta por dentro de um zero cenográfico, dando um mortal perfeito, pousando do outro lado para o delírio e a surpresa da plateia de 60 mil pessoas que lotavam o Maracanã naquela noite histórica.

O primeiro recado estava dado: não tenham pena desses caras! Eles são atletas incríveis que brigam por cada décimo de segundo em uma competição, que farão quase o impossível pela oportunidade de subirem em um pódio representando seus países de origem. E assim começava a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Resultado do trabalho de um super time de mais de 500 pessoas, com alguns dos melhores profissionais do mundo que não mediram esforços para fazê-la inesquecível.

“O fato é que essas ideias, quando são realmente originais, viram marcos, impactando para sempre nosso jeito de entender o passado, viver o presente e, o mais importante, imaginar o futuro. Pois a partir delas novas possibilidades se abrem.”

“Ouvindo esta música do Lenine de olhos fechados em um voo para São Paulo, me peguei em lágrimas fartas quando me dei conta do que se tratava. Ele usa uma sequência com mais de 20 adjetivos com conotações supostamente negativas, como imperfeito ou falível, para descrever simplesmente a manifestação mais original de todo o universo: a vida, ou melhor “o vivo”. Aquele que existe a partir da sofisticada alquimia bioquímica do cosmos e se manifesta em corpo e alma por aqui.

Sim. Se estamos vivos, somos realmente inconstantes e instáveis e nunca estamos satisfeitos. Em meio ao solo de piano de Amaro Freitas ao final da música, que parece dar cor e forma à explosão da vida, caíram muitas fichas ao mesmo tempo. Primeiro, a poesia e a arte são sempre atalhos para gente entender e sentir o que existe de mais importante. E depois, de como temos sido injustos com nós mesmos, cobrando a perfeição, a eternidade, o equilíbrio e a completude a meros seres vivos que somos. Uma incompatibilidade absoluta com a nossa própria natureza.”

“Na minha opinião, o melhor do festival foram as trocas que aconteceram com o poder real do encontro. Parece brincadeira, mas um dos pontos altos eram as grandes filas para as palestras, em que esbarrávamos com amigos, clientes ou simplesmente começávamos a conversar com um desconhecido genial que veio do outro lado do mundo.”

Novas tecnologias sempre foram disruptivas às anteriores. Na área criativa os computadores revolucionaram tudo o que existia. Mas agora o que está em jogo é exatamente a essência do que nos faz humanos, nossa inteligência e capacidade de inventar. Foi por conta delas que prosperamos. O que poderá acontecer com a terceirização dessas competências?

Por milhares de anos, exercitamos nossos sentidos e nossa capacidade cognitiva para ler os sinais da natureza, das pessoas e do céu. Combinados com nossa fé e imaginação, desbravamos o desconhecido, fundamos civilizações, transformamos terra em naves espaciais, construindo uma trajetória sem precedentes na história de 3,8 bilhões de anos da vida no planeta. Tudo a partir das decisões que tomamos. Com o tempo, ferramentas e acessórios foram refinando nossa capacidade de fazer as melhores escolhas. A bússola e o astrolábio aumentaram radicalmente nossas habilidades de navegação. O raio X e a ressonância magnética revolucionaram os diagnósticos e por aí vai. Mas, de alguma forma, o espaço da decisão continuava em nossas mãos. Para o bem e para o mal. Até agora. Se hoje já não vale mais a pena discutir com o Waze, ou com o Tinder (como era pré-histórico ficar enchendo a cara na balada na esperança de esbarrar com a cara metade!), isso fará ainda menos sentido com o boost que invade nossas vidas com a inteligência artificial.

Regeneração. Essa, assim como muitas outras palavras do universo da sustentabilidade, vem sendo esvaziada de sentido por usos superficiais, equivocados e oportunistas, espalhados em uma avalanche de textos, peças publicitárias e artigos sobre a bandeira ESG. No dicionário, regeneração significa “dar nova existência a; melhorar; corrigir; revivificar”. Definitivamente, não faltam demandas por regeneração em nossa realidade exaurida e superexplorada em todos os níveis, do físico ao espiritual, do moral ao ambiental. Começando pela regeneração da própria palavra regeneração!