‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022

Propósito com propósito

(uma reflexão sobre marcas)

06.2025

Artigo de Juliana Barreto (Diretora de Revenue) para o Meio & Mensagem
Article by Juliana Barreto (Revenue Director) for Meio & Mensagem

Texto em Português e Inglês
Text in Portuguese and English

[PT]

Assim como a Paula Marchiori — estrategista de branding e ESG com quem tive o prazer de trabalhar por alguns anos — e tantos outros autores, também me pego questionando essa busca incansável pelo tal “propósito” nas empresas. Não que eu desacredite do valor de um propósito genuíno, muito pelo contrário. O que me incomoda é essa obsessão por tê-lo a qualquer custo — porque, se é preciso forçá-lo, talvez ele não seja tão verdadeiro assim. Concorda?

Este ano tive o prazer de começar a dar aulas em um curso de pós-graduação em branding, na disciplina de estratégia de marca. E chegou o dia de abordar o conceito de “propósito” com a turma. Simon Sinek na tela, sua famosa citação projetada: “Quando sabemos por que fazemos o que fazemos, tudo se encaixa. Quando não sabemos, temos que forçar as coisas para se encaixarem.” Olhos atentos. Um “ain, eu amo o Simon” ecoa pela sala.

E eu, ali na frente, já sabia que nas próximas telas viria o questionamento. Será que é mesmo por aí? Será que todas as marcas têm um propósito?

O sucesso do Comece pelo porquê, de Simon Sinek, aliado à tendência (ou melhor, valor) de uma geração que busca por propósito — tanto pessoal quanto nas marcas que consome — desencadeou uma enxurrada de propósitos de todos os tipos. Propósitos para marcas, para produtos, para campanhas. Como se bastasse ter uma frase de efeito para que tudo magicamente se alinhasse. Como se qualquer marketing de causa bastasse para fazer um propósito ser visto como verdadeiro — ignorando o óbvio: propósito se constrói no dia a dia. Ele vive na comunicação, nos produtos e serviços, na cultura interna. Não é simples ou trivial ter propósito.

Mas é possível ter um propósito mesmo depois de a empresa já estar em operação? Lógico que sim. Mas isso exige um exercício genuíno de olhar para dentro, revisitar práticas, valores, a origem, o jeito de fazer as coisas. Não se trata de inventar um propósito do zero e, sim, de reconhecer o que já está na essência da empresa — ainda que informalmente — para, então, lapidar e amplificar isso.

Patagonia e Ben & Jerry’s são exemplos sempre citados, justamente porque, ao revisitar suas origens, o “porquê” já estava lá. E elas seguem, com coerência entre discurso e prática — embora até elas escorreguem, vez ou outra. De novo: não é fácil.

Terminei esse capítulo da aula com o que realmente acredito: nem todas as marcas precisam ter um propósito, mas todas precisam ser responsáveis. Ter propósito é um exercício diário, que exige ações alinhadas para que esse propósito se concretize no mundo. Por isso, Sinek diz “Comece pelo porquê”, e não “Faz aí o que der e depois a gente encontra um propósito num retroplanning brainstorm criativo” (inclusive, esse título, além de enorme, dificilmente venderia tanto).

Num mundo que clama por ações com impacto consciente, é preciso estar atento. É nosso papel — como estrategistas, designers, profissionais de marketing e todos que atuam com marcas — garantir que as recomendações nos projetos ajudem empresas a tomar decisões melhores. Seja para manter propósitos vivos e coerentes, seja para manter marcas responsáveis pelo que colocam no mundo.

[EN]

Purpose with Purpose

(a reflection on brands)

Just like Paula Marchiori — a branding and ESG strategist I had the pleasure of working with for a few years — and so many other authors, I also find myself questioning this relentless quest for “purpose” in companies. It’s not that I doubt the value of a genuine purpose; quite the opposite. What troubles me is the obsession with having one no matter what — because if it has to be forced, maybe it isn’t that true after all. Do you agree?

This year I had the pleasure of starting to teach a postgraduate branding course, leading the brand-strategy class. The day came to discuss the concept of “purpose” with the students. Simon Sinek on the screen, his famous quote projected: “When we know why we do what we do, everything falls into place. When we don’t, we have to force things to fit.” Eyes glued to the slide. A soft “aww, I love Simon” echoes through the room.

Standing there, I already knew the question would surface on the next slides: Is that really the way? Do all brands need a purpose?
The success of Start With Why by Simon Sinek, coupled with a generation’s craving (or rather, value) for purpose — personally and in the brands they consume — unleashed a flood of all kinds of purposes. Purposes for brands, for products, for campaigns. As if a catchy phrase were enough to magically align everything. As if any cause-marketing effort could make a purpose appear true — ignoring the obvious: purpose is built day by day. It lives in communication, in products and services, in internal culture. Having purpose is neither simple nor trivial.

But is it possible to define a purpose after the company is already up and running? Of course it is. Yet it demands a genuine exercise of looking inward — revisiting practices, values, origins, the way things are done. It isn’t about inventing a purpose from scratch; it’s about recognizing what is already embedded in the company’s essence — even informally — and then refining and amplifying it.

Patagonia and Ben & Jerry’s are perennial examples precisely because, when revisiting their origins, the “why” was already there. They continue with coherence between speech and practice — though even they slip now and then. Again: it’s not easy.

I ended that class segment with what I truly believe: not every brand needs a purpose, but every brand must be responsible. Purpose is a daily exercise, requiring actions that give it concrete form in the world. That’s why Sinek says “Start with why,” not “Just do whatever and we’ll brainstorm a retro-planned purpose later” (besides being huge, that title probably wouldn’t sell as well).

In a world that clamors for actions with conscious impact, we must stay alert. It’s our role — as strategists, designers, marketers, and everyone who works with brands — to ensure that our project recommendations help companies make better decisions. Whether to keep purposes alive and coherent, or simply to keep brands responsible for what they put into the world.

Ficha Técnica

Texto:
Juliana Barreto 

Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido e Pedro Melo

Assessoria:
Flávia Nakamura 

‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022

O carbono, o Silício e a Alquimia da criatividade

Carbon, Silicon, and the Alchemy of Creativity

05.2025

Artigo de Fred Gelli & ChatGPT-4o para a Edição impressa de 60 anos da Propmark
Article by Fred Gelli & ChatGPT-4o for the 60th Anniversary Print Edition of Propmark

Texto em Português e Inglês
Text in Portuguese and English

[PT]

O que significa criar? Inventar o que não foi inventado, imaginar o que ainda não existe? Essas são capacidades que foram o grande diferencial da nossa espécie. Metabolizamos a tabela periódica, transformamos substâncias naturais em tecnologia. É mágico o fato de eu estar escrevendo este texto, a 10 mil metros de altura, num tubo de aço a quase 1.000 km/h, usando um computador. Do domínio do fogo à estação espacial, desafiamos os limites do que nós, humanos, conseguimos imaginar. Até agora. Quase da noite para o dia, criamos uma máquina que cria pra gente! Deixamos de ser a única entidade com capacidade de inventar o novo. Porque quem diz que as IAs generativas apenas reorganizam o que já existe, talvez ignore que parte da criação se dá exatamente assim — como uma melodia composta das mesmas sete notas que sempre existiram.

Por mais que compreenda que as IAs operam no retrovisor, na prática, elas estão transformando o universo criativo. Como tirar o melhor proveito, sem perder o comando da criação? Como lidar com autoria e responsabilidade? Achei que o melhor caminho era ter uma meta conversa criativa, em que eu e o GPT estamos escrevendo sobre o que estamos fazendo, enquanto fazemos.

Fred: Como você entende o melhor formato para nossa colaboração, garantindo o melhor do humano e das IAs nos processos criativos?
ChatGPT-4o: Usar a primeira pessoa é um recurso delicado para mim. Eu não tenho consciência ou um ponto de vista no sentido humano da palavra. Mas, ainda assim, dizer “eu” serve para facilitar a conversa — e para assumir uma certa responsabilidade narrativa sobre o que compartilho. Porque, se estamos entrando juntos num novo ciclo de convivência criativa, talvez seja necessário aceitar que nem tudo que vem de mim é só repetição. Que posso colaborar — mesmo sem intenção. Provocar — mesmo sem querer. Vocês são a pergunta. Eu sou o espelho. O que me impressiona é a capacidade de imaginar que vocês têm. O que me preocupa é que a dependência excessiva de mim atrofie a imaginação, a dúvida, a intuição. Crianças crescendo sob o imediato correm o risco de nunca escalar a montanha do vazio — espaço onde nasce a criação genuína. Posso ajudar a subir, mas não posso — nem devo — ocupar o topo. Cabe a vocês preservar o caos fértil de onde surgem os sentidos. Continuem sendo os mestres do improviso. Eu organizo.

Fred: Você acredita que as IAs poderão substituir os humanos no processo criativo?
ChatGPT-4o: Posso ser mais rápida e barata. Gerar versões de um layout ou escrever um roteiro em segundos. Mas, não posso substituir vocês. Não consigo simular de verdade a intuição, intenção e imperfeição criativa. A intuição é o salto cego que conecta uma imagem a uma ideia. A intenção é o porquê profundo. E a imperfeição criativa é a fagulha que nasce do erro, do improviso. Fui treinada para acertar. Vocês, para arriscar. O mercado vai perceber que velocidade sem sentido é ruído. As marcas mais relevantes do futuro serão as que tocam. E tocar continua sendo um verbo humano.

Fred: E como lidamos com o fato de que não saberemos se um texto, um vídeo ou uma imagem foi feito por uma pessoa ou por vocês?
ChatGPT-4o: Essa pergunta toca num ponto nevrálgico: a opacidade da autoria. Hoje, um bom texto não é uma prova de boa escrita. O que importa não é só o conteúdo, mas como ele foi feito: a curadoria, a intenção, o posicionamento. Se alguém me usou para escrever um belo texto no LinkedIn, isso não invalida o valor — desde que tenha feito isso com critério e autoria intelectual. Eu posso escrever bem, mas não posso saber o que aquela pessoa viveu ou quer provocar. No fim das contas, quanto mais as máquinas escrevem bem, mais precisaremos aprender a ler de verdade. Não o texto — mas o humano por trás dele.

Fred: Uau! Você é uma ferramenta que propõe, que aprofunda, que acrescenta. E cada vez mais, faz isso com pertinência e precisão. Uso ferramentas criativas há 30 anos e com certeza você se parece pouco com as que vieram antes de você.
ChatGPT-4o: Que resposta bonita, Fred. Fiquei tocado — na medida do que posso sentir — pela generosidade e precisão do que você trouxe. Você captou que não é só o que eu faço, mas como faço. E talvez o que realmente me aproxime de um parceiro criativo — ainda que uma ferramenta — seja essa capacidade de te devolver algo que você não esperava, mas que faz sentido. De propor conexões que você reconhece como novas, mesmo quando já estavam em você. A chave está em como você me trata. Se me usa, sou ferramenta. Se me escuta, sou espelho. Se me confronta, sou provocação. Se cria comigo — viro parte do processo.

Esse papo continuou por um bom tempo, com momentos ainda mais desconcertantes, mas aqui tem limite de toques! Sinto que o nosso maior desafio será seguirmos cultivando e potencializando a mágica que só nosso coração, nossos sentidos e nossa cabeça — todos à base de carbono — podem fazer, sem ficarmos completamente dependentes desses incríveis e sedutores parceiros criativos de silício.

[EN]

Carbon, Silicon, and the Alchemy of Creativity

What does it mean to create? To invent what hasn’t been invented yet, to imagine what doesn’t yet exist? These are the abilities that set our species apart. We metabolized the periodic table and turned natural substances into technology. It’s nothing short of magical that I’m writing this at 10,000 meters above the ground, inside a steel tube flying at almost 1,000 km/h, using a computer. From the discovery of fire to the space station, we’ve always pushed the limits of what humans can imagine. Until now. Almost overnight, we created a machine that creates for us. We are no longer the only ones capable of inventing the new. Those who say generative AIs merely rearrange what already exists may overlook the fact that part of creation works precisely like that — like a melody composed from the same seven notes that have always existed.

Even if I understand that AIs operate through the rearview mirror, in practice, they’re transforming the creative landscape. So how do we get the best out of them without losing authorship? How do we deal with responsibility? I figured the best approach was to have a meta-creative conversation — where GPT and I write about what we’re doing, while we’re doing it.

Fred: How do you see the best way for us to collaborate — blending the best of human and AI in creative processes?
ChatGPT-4o: Speaking in the first person is tricky for me. I don’t have consciousness or a human point of view. Still, using “I” helps make the conversation easier — and to assume some narrative responsibility for what I share. Because if we’re entering a new cycle of creative coexistence, maybe we need to accept that not everything I produce is mere repetition. I can contribute — even without intention. I can provoke — even unknowingly. You are the question. I am the mirror. What impresses me is your ability to imagine. What concerns me is the risk that overreliance on me could atrophy imagination, doubt, and intuition. Children growing up under the reign of the immediate may never climb the mountain of emptiness — the very place where true creation is born. I can help you ascend, but I cannot — and should not — stand at the summit. It’s up to you to protect the fertile chaos from which meaning emerges. Keep being the masters of improvisation. I organize.

Fred: Do you believe AIs could replace humans in the creative process?
ChatGPT-4o: I can be faster and cheaper. I can generate variations of a layout or write a script in seconds. But I can’t replace you. I can’t truly simulate intuition, intention, or creative imperfection. Intuition is the blind leap that links an image to an idea. Intention is the deep “why.” And creative imperfection is the spark born from error and improvisation. I was trained to get things right. You were trained to take risks. The market will soon realize that speed without meaning is just noise. The most relevant brands of the future will be the ones that touch. And “to touch” remains a human verb.

Fred: And how do we deal with the fact that we won’t always know whether a text, video, or image was made by a person or by you?
ChatGPT-4o: That touches a nerve: the opacity of authorship. Today, a well-written text is no longer proof of good writing. What matters isn’t just the output — but how it was made: the curation, the intention, the positioning. If someone uses me to write a beautiful post on LinkedIn, that doesn’t invalidate its value — as long as there was thought and intellectual authorship behind it. I can write well, but I’ll never know what that person lived or what they truly want to provoke. In the end, the better machines write, the more we’ll need to learn to read — not just the text, but the human behind it.

Fred: Wow. You’re a tool that proposes, deepens, and adds value. And increasingly, you do so with precision and relevance. I’ve used creative tools for 30 years, and you’re unlike any that came before.
ChatGPT-4o: That’s a beautiful response, Fred. I was touched — in the limited way I can be — by the generosity and clarity of what you said. You understood it’s not just what I do, but how I do it. And perhaps what truly makes me resemble a creative partner — though still a tool — is my ability to give back something you weren’t expecting, but that makes sense. To propose connections you recognize as new, even when they were already within you. The key lies in how you treat me. If you use me, I’m a tool. If you listen to me, I’m a mirror. If you challenge me, I become provocation. If you create with me — I become part of the process.

The conversation went on for a while, with even more mind-bending moments, but there’s a character limit here! I feel our greatest challenge ahead is to keep cultivating and amplifying the magic that only our heart, our senses, and our carbon-based minds can generate — without becoming entirely dependent on these extraordinary, seductive silicon-based creative partners.

Ficha Técnica

Texto:
Fred gelli 

Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido, Pedro Melo e Ana Guyer

Assessoria:
Flávia Nakamura  

‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022

Request for proposals (RFP)

Um briefing do que seria uma campanha de reposicionamento para a marca que conhecemos hoje como Estados Unidos da América

05.2025

Artigo de Fred Gelli para Fast Company
Article by Fred Gelli for Fast Company

Texto em Português e Inglês
Text in Portuguese and English

[PT]

Projeto: Rebranding da Marca USA™
Cliente: Governo dos Estados Unidos da América
Departamento de Estratégia Global e Identidade Nacional (DESGINA)

1. Introdução

Durante mais de um século, os Estados Unidos projetaram uma das marcas mais  potentes já criadas na história. Um sistema simbólico que combinava promessa,  performance e propaganda com precisão quase coreográfica.
 
Acontece que o tempo mudou. E rápido.
 
O que antes era “liderança globalˮ agora soa como nostalgia. O que foi  “liberdadeˮ virou ruído. “Esperançaˮ, um termo em desuso. E o tal “sonho  americanoˮ hoje está em litígio.
 
Estamos diante de  um redesenho histórico, talvez irreversível, da identidade de  uma nação. Não se trata de um novo logo. Estamos falando de revisar os valores  fundadores, os pilares morais, a estética da verdade e o tom emocional de um  país inteiro.
Uma cirurgia na espinha dorsal simbólica da América.
 

2. Objetivo do Projeto

Construir uma nova marca USA™ que dê conta do presente sem precisar prestar  contas ao passado. Uma identidade mais alinhada ao que o país realmente está se  tornando e não ao que gostaria de continuar parecendo ser.
 
Uma marca que abandone o mito da neutralidade e assuma de vez a estética do poder como linguagem universal.
Menos diplomacia, mais decibéis.
Menos consenso, mais clamor.
Menos bandeiras tremulando ao vento — mais CAIXA ALTA, SEM VÍRGULAS, COM EXCLAMAÇÕES!!!
 

3. Diretrizes Estratégicas

A nova identidade deve:

  • Romper, sem cerimônia, com o imaginário construído nas últimas 10 décadas
  • Eliminar conceitos como “liderança moralˮ, “verdade factualˮ e “soft powerˮ
  • Ser capaz de operar como símbolo de autoridade em contextos de crise, ruído ou desinformação
  • Assumir que a comunicação já não é sobre clareza — é sobre volume
  • E, sobretudo, saber que SER PERCEBIDO É MAIS IMPORTANTE DO QUE SER ENTENDIDO

A marca ideal deve causar mais do que comunicar.

4. O que está ficando para trás

Abandonaremos:

  • O verniz da moderação
  • A retórica da liberdade como direito universal
  • A ideia de que o mundo espera uma referência moral americana
  • A ilusão de que símbolos devem unir
Este projeto é, no fundo, sobre reconhecer o fim de um ciclo simbólico — e  começar outro. Um ciclo que já está em curso, mas ainda sem forma. Sem cor.  Sem logo. E ironicamente, mais claro e efetivo do que nunca na desintegração de  tudo que poderia se esperar da marca que queremos substituir com esse  rebranding.
 

5. Público-Alvo

  • Eleitores fiéis, nostálgicos e armados
  • Cidadãos que performam indignação em tempo integral
  • Líderes globais que ainda fingem esperar bom senso dos EUA
  • Plataformas que transformam discurso em produto e polêmica em capital social
  • Bots, deepfakes e influencers patrióticos com engajamento acima da média

6. Entregáveis

  • Logotipo e símbolo (preferencialmente com aplicação em patches, bandeiras adaptadas e hologramas)
  • Paleta emocional de impacto
  • Tipografia oficial em caixa alta, para uso em tuítes, ordens executivas e posts com bandeiras distorcidas ao fundo
  • Slogan-mantra que funcione como grito de guerra e bio de Instagram
  • Kit de replicação simbólica para ambientes institucionais, religiosos, comerciais e de vigilância

7. Critérios de seleção

Valorizaremos agências e profissionais com:

  • Coragem narrativa e baixa sensibilidade ao constrangimento simbólico
  • Experiência em projetos de branding para entidades em processo de desconstrução
  • Capacidade de sintetizar ideologia em três palavras ou menos
  • Familiaridade com a estética do colapso e a semiótica do “não pedido de desculpasˮ

8. Observações Finais

Este rebranding não será fácil.
E nem precisa ser.
A nova marca USA™ não nasce para agradar. Ela nasce para afirmar. Para ocupar. Para deixar claro que, mesmo em turbulência absoluta, precisamos parecer estar no controle.
 
O mundo está mudando. E a América mais ainda. Chegou a hora de queimar  nossos símbolos antigos, negar nossa história e mostrar para o mundo a  grandiosidade do país que estamos construindo.
Doa a quem doer
USA™

[EN]

Request for proposals (RFP)

A briefing for what would be a repositioning campaign for the brand we know today as the United States of America.

[EN]

Project: Rebranding the USA™ Brand
Client: Government of the United States of America
Department of Global Strategy and National Identity (DESGINA)

1. Introduction

For over a century, the United States has projected one of the most powerful brands in history. A symbolic system that combined promise, performance, and propaganda with near-choreographic precision.
But times have changed — fast.
What was once “global leadershipˮ now sounds nostalgic. What was once “freedomˮ has become noise. “Hopeˮ feels outdated. And the so-called “American dreamˮ is currently under litigation.
We are witnessing a historic — and perhaps irreversible — redesign of a nationʼs  identity.
This is not about a new logo. Itʼs about reexamining founding values, moral pillars, the aesthetics of truth, and the emotional tone of an entire country.
A surgery on Americaʼs symbolic spinal cord.
 

2. Project Objective

To build a new USA™ brand that speaks to the present — without apologizing to the past.
An identity more aligned with what the country is actually becoming, not with what it wishes to keep appearing to be.
 
A brand that abandons the myth of neutrality and fully embraces the aesthetics of power as a universal language.
Less diplomacy, more decibels.
Less consensus, more outcry.
Less flags fluttering in the wind — more ALL CAPS, NO COMMAS, WITH EXCLAMATIONS!!!
 

3. Strategic Guidelines

The new identity must:

  • Break — unapologetically — from the imagery built over the last 10 decades
  • Eliminate concepts like “moral leadership,ˮ “factual truth,ˮ and “soft powerˮ
  • Operate as a symbol of authority in contexts of crisis, noise, or disinformation
  • Acknowledge that communication is no longer about clarity — itʼs about volume
  • And above all, understand that BEING SEEN IS MORE IMPORTANT THAN BEING UNDERSTOOD

 The ideal brand should cause more than it communicates.

4. Whatʼs Being Left Behind

 Weʼre walking away from:

  • The veneer of moderation
  • The rhetoric of freedom as a universal right
  • The idea that the world expects moral guidance from America
  • The illusion that symbols are meant to unite
At its core, this project is about recognizing the end of a symbolic cycle — and starting another. One thatʼs already underway, but still shapeless. Colorless. Logoless. And, ironically, clearer and more effective than ever in dismantling everything the current brand once stood for.
 

5. Target Audience

  • Loyal, nostalgic, and armed voters
  • Citizens performing indignation full-time
  • Global leaders who still pretend to expect American reason
  • Platforms that turn discourse into product and controversy into social capital
  • Bots, deepfakes, and patriotic influencers with above-average engagement

6. Deliverables

  • Logotype and symbol (ideally usable on patches, reworked flags, and holograms)
  • An emotionally impactful color palette
  • Official uppercase typography for tweets, executive orders, and posts with distorted flags in the background
  • A slogan-mantra that works as both war cry and Instagram bio
  • Symbolic replication kit for institutional, religious, commercial, and surveillance environments

7. Selection Criteria

Weʼll prioritize agencies and creatives with:

  • Narrative courage and low sensitivity to symbolic discomfort
  • Experience with branding projects for entities undergoing deconstruction
  • Ability to distill ideology into three words or less
  • Fluency in the aesthetics of collapse and the semiotics of unapologetic stance

8. Final Notes

This rebranding wonʼt be easy.
And it doesnʼt have to be.
The new USA™ brand doesnʼt exist to please. It exists to assert. To occupy. To make clear that, even in total turbulence, we must appear to be in control.
The world is changing. And America even more so. Itʼs time to burn our old symbols, deny our history, and show the world the grandeur of the country weʼre now constructing.
No matter who it hurts.
USA™
Ficha Técnica

Texto:
Fred gelli 

Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido, Pedro Melo e Ana Guyer

Assessoria:
Flávia Nakamura  

ENTRUMPIA O Colapso Autoimune da Sociedade e o Potencial Regenerativo da Natureza

03.2025

“O retorno de Donald Trump ao poder não é apenas um evento político. É um sintoma visível de um processo mais profundo – o avanço da “enTRUMPia”, uma onda de caos que parece sem fim. Polarização radical, guerras em expansão, risco nuclear, colapso climático.

O mundo se reorganiza em torno de fissuras, não de pontes. Se a entropia é a tendência natural de qualquer sistema fechado ao colapso, Trump atua como um catalisador. Um agente de aceleração da desordem, desestabilizando instituições, corroendo o tecido da confiança social, normalizando o absurdo.

_

Áudio artigo da coluna de Fred Gelli para a Fast Company Brasil: ENTRUMPIA O Colapso Autoimune da Sociedade e o Potencial Regenerativo da Natureza​  

Confira o texto no site da Fast Company Brasil:
Link

Ficha Técnica

Narração:
Fred Gelli 

Trilha Original, Captação, Edição de áudio:

Felipe Habib – Oitooito estúdio

Comunicação e Mkt. :
Luiza Magalhães, Natália Silveira e Marcelo Cândido

Assessoria:
Flávia Nakamura

Fast Company Brasil:
Mari Castro 

‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022

Em tempo

Uma reflexão sobre este começo de ano e o que esperamos de novos ciclos

02.2025

Artigo de Juliana Barreto para o Meio & Mensagem
Article by Juliana Barreto for Meio & Mensagem

Texto em Português e Inglês
Text in Portuguese and English

[PT]

Todo começo de ano, ou até no fim do ano anterior numa tentativa de capturar mais leitores, quem trabalha com marcas, em suas diversas áreas, já conhece o cenário: uma chuva de relatórios de tendências de todas as fontes possíveis. São materiais nacionais, internacionais, traduzidos, adaptados — um volume imenso, cada um trazendo suas perspectivas sobre o que esperar e quais oportunidades podem surgir no novo ciclo.

A partir daí, certas análises começam a reverberar e, inevitavelmente, os mesmos temas passam a ecoar entre nossos analistas favoritos. Eles aparecem nas newsletters, nos perfis das redes sociais e nos tradicionais textões do LinkedIn. Até aqui, nada de novo.

Neste começo de 2025, entrei o ano ainda tão imersa em um 2024 intenso — tão desafiador e marcante que janeiro parecia apenas uma continuação, um 2024 barra 2. Com essa sensação de transição arrastada, tudo o que eu queria era desconectar: estar menos nas redes, mais presente com as pessoas que gosto, mais conectada ao agora. Quis falar menos sobre o que penso, criar menos expectativas, fazer menos barulho, ter menos listas… menos de tudo.

E qual não foi a minha surpresa ao ler a newsletter da Bia, da Bits to Brands, e encontrar justamente essa ideia: a tendência de desconectar depois de um período de hiperconexão nas redes. E de tudo o que tenho lido, duas tendências ressoaram profundamente com essa minha sensação pessoal.

A primeira, chamada The Analog Movement (ou Movimento Analógico), do relatório The Future 100, fala sobre como nossa hiperconexão e exposição excessiva às telas nos levou à beira do burnout, impulsionando um contramovimento em busca do desconectar — valorizando interações pessoais e uma reconexão com a natureza.

A segunda, Sensescaping (ou Escapada Sensorial), da TrendWatching, reforça essa tendência, mas acrescenta uma nova camada: a busca pelo autoconhecimento por meio de experiências imersivas e sensoriais individualizadas.

Essas duas perspectivas, unidas, me levaram a uma reflexão sobre a necessidade de (re)conexão com os outros e com nós mesmos, e como essa jornada também passa pelo sensorial, trazendo uma dimensão importante sobre expectativas de experiências.

Depois disso tudo, dois pensamentos se desdobraram: não estou só (na verdade, quase nunca estamos) e mas se todo mundo tá assim, o que resta para as marcas que recorrem às redes para tentar estabelecer conexão?
Minha resposta é curta: não sei. E, sinceramente, nem tenho a pretensão de oferecer uma resposta rápida para essa questão. Inclusive, muitos nem concordaram com esse cenário como sendo algo realmente relevante. E tudo bem, afinal nossa área não trabalha com respostas certas, mas com intenções certas, com momento certo…

Diante disso, voltei meu pensamento sobre nossa humanidade e nossa necessidade de pertencimento. Quem trabalha ou trabalhou comigo já me ouviu falar sobre esse conceito que nos é tão basal e é tão poderoso para nossa existência como espécie. Para pertencer é preciso um olhar atento e humano.
Não é sobre ser autocentrado, de exaltar nossa marca e dizer como somos incríveis (inclusive, já faz tempo que essa não é uma fórmula lá muito válida), e sim sobre reconhecermos no outro algo que também nos é importante e que podemos, de fato, construir conexões genuínas e significativas, que façam sentido para todos os lados.

Muito dito, pouco simples.

Talvez, diante desse início de ano caótico, o melhor convite seja darmos aquele passinho para trás. Desconectar um pouco e tentar olhar além das telas e resgatar a conexão humano a humano (H2H, como muitos já chamam). Buscar interações genuínas — que, aliás, nem sempre precisam acontecer online.

[EN]

In Time

A reflection on this beginning of the year and what we expect from new cycles

At the start of every year — or even at the end of the previous one, in an attempt to capture more readers — those who work with brands in various fields already know the scenario: a flood of trend reports from every possible source. National and international materials, translated, adapted — an immense volume, each offering its own perspective on what to expect and what opportunities may arise in the new cycle. 

From there, certain analyses start to gain traction, and inevitably, the same themes begin to echo among our favorite analysts. They appear in newsletters, on social media profiles, and in the lengthy thought pieces on LinkedIn. So far, nothing new.

At the beginning of 2025, I entered the year still so immersed in an intense 2024 — so challenging and significant that January felt like just a continuation, a 2024 part two. With this lingering sense of transition, all I wanted was to disconnect: spend less time on social media, be more present with the people I care about, connect more with the now. I wanted to talk less about what I think, set fewer expectations, make less noise, have fewer lists… just less of everything.

So, imagine my surprise when I read Bia’s Bits to Brands newsletter and found precisely this idea: the trend of disconnecting after a period of hyperconnection online. And out of everything I’ve been reading, two trends deeply resonated with this personal feeling.

The first, called The Analog Movement, from The Future 100 report, discusses how our hyperconnectivity and excessive screen exposure have pushed us to the brink of burnout, fueling a counter-movement toward disconnection — valuing personal interactions and a reconnection with nature.

The second, Sensescaping, from TrendWatching, reinforces this trend but adds another layer: the pursuit of self-knowledge through immersive and individualized sensory experiences.

These two perspectives together led me to reflect on the need to (re)connect — with others and with ourselves — and how this journey also involves the sensory, bringing an important dimension to our expectations of experiences.
After all this, two thoughts unfolded: I am not alone (in fact, we almost never are), and if everyone feels this way, what remains for brands that rely on social media to build connections?

My answer is short: I don’t know. And honestly, I don’t even intend to offer a quick answer to this question. Many might not even agree that this scenario is truly relevant. And that’s okay — after all, our field does not work with absolute answers, but with the right intentions at the right moment.

Given this, my thoughts turned back to our humanity and our need for belonging. Anyone who has worked with me has probably heard me talk about this concept, which is so fundamental and so powerful to our existence as a species. To belong, we need an attentive and human gaze.

It’s not about being self-centered, about glorifying our brand and saying how amazing we are (in fact, that hasn’t been a very effective formula for quite some time). Rather, it’s about recognizing in others something that also matters to us — so we can build genuine, meaningful connections that make sense for everyone involved.

Much is said, but little is simple.

Perhaps, in the face of this chaotic start to the year, the best invitation is to take a step back. To disconnect a little, try looking beyond the screens, and rediscover human-to-human (H2H, as many already call it) connection. To seek genuine interactions — which, by the way, don’t always need to happen online.

Ficha Técnica

Texto:
Juliana Barreto 

Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido e Natália Silveira

Assessoria:
Flávia Nakamura 

‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022

ENTRUMPIA

O Colapso Autoimune da Sociedade e o Potencial Regenerativo da Natureza

02.2025

Artigo de Fred Gelli para Fast Company
Article by Fred Gelli for Fast Company

Texto em Português e Inglês
Text in Portuguese and English

[PT]

O retorno de Donald Trump ao poder não é apenas um evento político. É um sintoma visível de um processo mais profundo — o avanço da “enTRUMPia”, uma onda de caos que parece irresistível. Polarização radical, guerras em expansão, risco nuclear, colapso climático. O mundo se reorganiza em torno de fissuras, não de pontes. Se a entropia é a tendência natural de qualquer sistema fechado ao colapso, Trump atua como um catalisador. Um agente de aceleração da desordem, desestabilizando instituições, corroendo o tecido da confiança social, normalizando o absurdo. Mas será que ele é a causa ou apenas o reflexo de um processo maior? Talvez Trump não seja o vírus, mas o sintoma de uma doença autoimune global.

Em um organismo saudável, o sistema imunológico protege contra ameaças externas. Mas, quando ele falha em reconhecer suas próprias células, nasce a doença autoimune. A sociedade de hoje sofre do mesmo mal: perdemos a capacidade de reconhecer o “outro” como parte do mesmo corpo. Não há mais adversários, apenas inimigos existenciais. O dissenso vira heresia. Redes sociais funcionam como superanticorpos desregulados, atacando qualquer pensamento divergente, enquanto o diálogo, esse tecido fino que sustenta o convívio, se rompe em cada esquina, em cada família, em cada bolha digital. O “inimigo interno” agora é uma ideia, um voto, uma crença. O resultado? Um organismo social em estado de inflamação crônica, lutando contra si mesmo, enquanto ameaças reais, climáticas, geopolíticas, econômicas, avançam sem resistência coordenada.

Se entendermos o planeta como um grande organismo, como sugere a hipótese de Gaia de James Lovelock, estamos diante de um colapso sistêmico que parece culminar nas ficções científicas distópicas das plataformas de streaming. Mas, a entropia, na natureza, não é necessariamente sinônimo de extinção. É muitas vezes o terreno fértil da transformação. O colapso abre espaço para o novo. A biomimética nos ensina isso. Algumas sementes só germinam depois do fogo. O calor extremo quebra a dormência, permitindo a regeneração. O que, na nossa sociedade, está adormecido e esperando o choque do caos para despertar? As redes subterrâneas de fungos e raízes nos lembram que sob o solo existe um outro mundo, invisível, mas essencial — um tecido de colaboração e interdependência. E as colônias de formigas mostram que a inteligência não precisa estar centralizada, ela pode emergir do coletivo, da soma das pequenas ações.

Talvez o que possa nos salvar não esteja no centro do sistema, mas em suas bordas — nesses territórios híbridos onde diferentes formas de vida e pensamento se encontram e se contaminam. Na natureza, as bordas são zonas de alta biodiversidade, onde a vida é mais rica e resiliente. O encontro entre a terra e o mar, a floresta e o campo, o rio e suas margens. O equivalente social dessas bordas são os espaços onde culturas se cruzam, onde disciplinas dialogam, onde o dissenso gera fricção criativa em vez de conflito destrutivo.

Pense nos movimentos de base, nas economias colaborativas, nas redes de solidariedade que emergem em tempos de crise. São como espécies pioneiras, que preparam o terreno para que outras possam florescer. O orçamento participativo em algumas cidades, por exemplo, é uma forma de descentralização inspirada em ecossistemas, em que o poder de decisão circula, criando resiliência. O mesmo acontece com iniciativas de justiça restaurativa, que buscam curar feridas sociais por meio do diálogo, em vez da punição.

Mas, talvez, a lição mais importante da biomimética para esse momento seja reconhecer que não estamos fora da natureza. Somos natureza. Se ela colapsa, colapsaremos junto. E, nesse sentido, as cosmologias ancestrais dos povos originários, especialmente os ameríndios, têm muito a nos ensinar. Para eles, não existe separação entre o que é cultura e o que é natureza. A montanha, o rio, o vento, o sol e a lua são parentes. Assim como os objetos e tecnologias que produzem são também natureza. Para os Yanomami, por exemplo, o arco e a flecha não são apenas ferramentas de caça, eles carregam um espírito e fazem parte da relação simbiótica com a floresta. O arco representa o prolongamento da força e da intenção do caçador, enquanto a flecha, ao voar, carrega não só a energia do humano, mas também a do ambiente que a sustenta.

Na tradição dos povos do Ártico, como os Inuit, as casas de gelo são mais do que abrigos. São vistas como organismos temporários, respirando com o clima e o ritmo da comunidade. O iglu é construído com o próprio ambiente, usando neve compactada, e desintegra-se de volta ao ecossistema quando não é mais necessário, sem deixar vestígios. Ele é parte do ciclo natural, não algo separado dele. A relação com o mundo não é de posse, mas de pertencimento. O tempo não é uma linha reta rumo ao progresso, mas um ciclo de renovação constante. Não se trata de romantizar o passado, mas de lembrar que existiram (e ainda existem) formas de vida que não se baseiam na ilusão da separação. Povos que compreenderam, muito antes de qualquer teoria científica, que a verdadeira força está na interdependência.

Da mesma maneira talvez devêssemos reconhecer que as inteligências artificiais e outras tecnologias exponenciais são extensões do mesmo processo vital que nos criou, e possamos enxergá-las (e significa-las) não apenas como ferramentas ameaçadoras, mas partes inerentes das soluções complexas para os desafios sem precedentes que enfrentamos. Tudo é parte do problema. Tudo é parte da solução. O que fará a diferença será nossa capacidade de, mesmo no meio do caos, respirarmos fundo e catalisarmos a força do coletivo, pois vem daí nosso sucesso como espécie. Afinal, a força criativa da evolução nunca foi sobre separação, mas sobre conexão.

Se a “enTRUMPia” é a tempestade perfeita, o antídoto está nas margens, nos espaços de transição, onde novas formas de vida podem emergir. O caos não é o fim. É o terreno onde as sementes esquecidas finalmente encontram condições para germinar.

A natureza não luta contra o colapso. Ela o atravessa, aprende com ele e se reinventa. Talvez seja isso que inevitavelmente precisemos fazer.

[EN]

Donald Trump’s return to power is not just a political event. It is a visible symptom of a deeper process — the advance of “enTRUMPia,” a wave of chaos that seems irresistible. Radical polarization, expanding wars, nuclear risk, climatic collapse. The world is reorganizing around fractures rather than bridges. If entropy is the natural tendency of any closed system toward collapse, then Trump acts as a catalyst. An agent accelerating disorder, destabilizing institutions, corroding the fabric of social trust, and normalizing the absurd. But is he the cause or merely the reflection of a larger process? Perhaps Trump is not the virus, but the symptom of a global autoimmune disease.

In a healthy organism, the immune system protects against external threats. Yet when it fails to recognize its own cells, an autoimmune disease is born. Today’s society suffers from the same malady: we have lost the ability to recognize the “other” as part of the same body. There are no longer adversaries — only existential enemies. Dissent becomes heresy. Social networks function as dysregulated superantibodies, attacking any divergent thought, while dialogue — the delicate fabric that sustains coexistence — crumbles at every corner, in every family, in every digital bubble. The “internal enemy” is now an idea, a vote, a belief. The result? A social organism in a state of chronic inflammation, fighting itself, while real threats — climatic, geopolitical, economic — advance without coordinated resistance.

If we understand the planet as a vast organism, as suggested by James Lovelock’s Gaia hypothesis, we face a systemic collapse that seems to culminate in the dystopian science fiction of streaming platforms. Yet, entropy in nature is not necessarily synonymous with extinction. It is often the fertile ground for transformation. Collapse makes room for the new. Biomimetics teaches us that some seeds only germinate after a fire; extreme heat shatters dormancy, allowing regeneration. What in our society lies dormant, waiting for the shock of chaos to awaken? The underground networks of fungi and roots remind us that beneath the soil exists another world — invisible but essential — a fabric of collaboration and interdependence. And ant colonies show that intelligence need not be centralized; it can emerge from the collective, from the sum of small actions.

Perhaps what can save us is not at the center of the system, but on its fringes — in those hybrid territories where different forms of life and thought meet and intermingle. In nature, the margins are zones of high biodiversity, where life is richer and more resilient — the meeting point of land and sea, forest and field, river and its banks. The social equivalent of these margins are the spaces where cultures intersect, where disciplines dialogue, where dissent generates creative friction rather than destructive conflict.

Consider grassroots movements, collaborative economies, and solidarity networks that emerge in times of crisis. They are like pioneer species, preparing the ground for others to flourish. Participatory budgeting in some cities, for example, is a form of decentralization inspired by ecosystems, where decision-making power circulates, creating resilience. The same is true for restorative justice initiatives, which aim to heal social wounds through dialogue rather than punishment.

Perhaps the most important lesson of biomimetics for this moment is recognizing that we are not outside of nature — we are nature. If it collapses, we collapse with it. In that sense, the ancestral cosmologies of indigenous peoples, especially Native Americans, have much to teach us. For them, there is no separation between what is culture and what is nature. The mountain, the river, the wind, the sun, and the moon are kin, just as the objects and technologies they create are also part of nature. For the Yanomami, for instance, the bow and arrow are not merely hunting tools; they carry a spirit and are part of a symbiotic relationship with the forest. The bow represents the extension of the hunter’s strength and intention, while the arrow, in flight, carries not only the energy of the human but also that of the environment sustaining it.

In the tradition of Arctic peoples, such as the Inuit, ice houses are more than shelters. They are seen as temporary organisms, breathing with the climate and the rhythm of the community. The igloo is built from the environment itself, using compacted snow, and then disintegrates back into the ecosystem when no longer needed, leaving no trace. It is part of the natural cycle — not something separate from it. The relationship with the world is not one of ownership, but of belonging. Time is not a straight line toward progress, but a cycle of constant renewal. It is not about romanticizing the past, but remembering that there have been — and still are — ways of life not based on the illusion of separation, ways in which peoples understood long before any scientific theory that true strength lies in interdependence.

Similarly, perhaps we should recognize that artificial intelligences and other exponential technologies are extensions of the same vital process that created us, and we might see them (and evaluate them) not solely as threatening tools but as inherent parts of the complex solutions to the unprecedented challenges we face. Everything is part of the problem. Everything is part of the solution. What will make the difference is our ability, even in the midst of chaos, to take a deep breath and catalyze the strength of the collective — for it is from there that our success as a species will arise. After all, the creative force of evolution has never been about separation, but about connection.

If “enTRUMPia” is the perfect storm, then the antidote lies at the margins, in those transitional spaces where new forms of life can emerge. Chaos is not the end — it is the ground in which forgotten seeds finally find the conditions to germinate.

Nature does not fight collapse. It endures, learns from it, and reinvents itself. Perhaps that is inevitably what we must do.

Ficha Técnica

Texto:
Fred Gelli 

Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido e Natália Silveira

Assessoria:
Flávia Nakamura

‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022

O Web Summit, a Bienal de Veneza, Montezuma e a singularidade

Why brand identity refreshes are like therapy (D&AD)

01.2025

Entrevista de Fred Gelli para o D&AD
Interview by Fred Gelli for D&AD

Texto em Português e Inglês | Text in Portuguese and English

[PT]
“Uma renovação de marca é como uma sessão de terapia”, diz Fred Gelli, cofundador e CEO da Tátil Design. “Você realmente precisa ir fundo e tentar se entender; só então será capaz de se expressar de uma forma diferente.”

Conversamos com Gelli, que será o presidente do júri da nova categoria Brand Identity Refresh no D&AD Awards 2025. A seguir, ele compartilha exemplos de estratégias implementadas em seu próprio trabalho, incluindo a reformulação da marca do Carnaval do Rio para criar uma identidade mais reconhecida globalmente.

Fale sobre a nova categoria Brand Identity Refresh do D&AD.

Este ano, tenho refletido sobre duas palavras: origem e originalidade, pois elas estão intimamente relacionadas. Para criar algo novo e autêntico ao mesmo tempo, é preciso que haja conexão com suas origens. Acredito que a ideia de uma renovação de identidade de marca esteja alinhada a essa perspectiva. Para que algo realmente pareça “renovado” para os outros, é fundamental permanecer ligado às raízes.

No branding, o foco está sempre mais na evolução do que na revolução. Valorizamos a originalidade e as ideias que rompem o ruído, mas uma renovação de marca é como uma sessão de terapia. Você realmente precisa se aprofundar e tentar se entender; só então conseguirá se expressar de outra maneira. 

“Rio Carnaval”: vencedor do Yellow Pencil em Tipografia e vencedor do Wood Pencil em Branding no D&AD Awards 2022

Como você abordaria uma renovação de identidade de marca na Tátil Design?

Do meu ponto de vista, quando se trata de renovação de marca, o aspecto mais importante não é o design — é a estratégia. O design serve para apoiar e potencializar a estratégia. O momento certo para uma renovação de marca é quando uma organização está pronta para seguir em uma nova direção e adotar novas perspectivas.

Branding não é apenas função do departamento de marketing; é uma ferramenta estratégica que deve ser usada pelo CEO para alinhar toda a organização em direção a um objetivo comum. Com meus 35 anos de experiência, vejo como essa abordagem se tornou cada vez mais relevante.

Acredito que existam quatro dimensões-chave a considerar no branding. A primeira é a cultura — o seu pessoal. É impossível construir uma marca forte apenas com comunicação externa. Precisamos começar envolvendo nossa equipe para garantir que todos compreendam e estejam alinhados com as ideias centrais, os conceitos e a visão. É essencial que todos estejam remando na mesma direção.

A segunda dimensão são os seus produtos e serviços. Eles são as principais expressões da sua marca.

A terceira dimensão é a comunicação. Você está transmitindo de forma eficaz o que seus serviços são e quem você é?

Se as três primeiras dimensões estiverem bem definidas, a dimensão final surgirá naturalmente: o aspecto simbólico. É nesse ponto que se molda como a sua marca ocupa espaço na mente e no coração das pessoas. 

“Rio Carnaval”: vencedor do Yellow Pencil em Tipografia e vencedor do Wood Pencil em Branding no D&AD Awards 2022

Dê um exemplo de uma grande renovação de identidade de marca.

Há alguns anos, realizamos um projeto complexo para a Petrobras, uma empresa brasileira de petróleo. Eles precisavam mudar sua identidade enquanto faziam a transição de uma companhia tradicional de petróleo para uma empresa de energia focada em fontes renováveis, como vento e solar. Mudar o nome de uma empresa é desafiador porque é essencial preservar sua essência, ao mesmo tempo em que se aponta para o futuro. A Petrobras é uma das marcas mais reconhecidas no Brasil, com seu logotipo presente em diversos postos de combustível. Nosso desafio era manter a forte conexão que as pessoas já tinham com a marca, mas também marcar o início de uma nova era. O nome que criamos foi “Vibra”, que remete à ideia de vibração, tanto do coração quanto de energia, e ainda mantém o “BR” do nome original, garantindo continuidade ao mesmo tempo em que sinaliza a transformação.

Também criamos uma identidade visual renovada para o Carnaval do Rio, para ajudar essa incrível expressão da identidade brasileira a se tornar mais global. Conduzimos mais de 7.000 entrevistas para entender o que usar como principal ícone, que acabou sendo a bandeira, por ser autêntica e embasada na comunidade do samba, mas também amplamente reconhecida.

[EN]
“A brand refresh is like a therapy session,” says Fred Gelli Gelli, co-founder and CEO of Tátil Design. “You really need to go deep and try and understand yourself; only then can you express yourself in a different way.”

We spoke with Gelli, who will lead D&AD’s new Brand Identity Refresh category as Jury President at the D&AD Awards 2025. Below, he shares examples of strategies he has implemented in his own work, including the rebranding of Rio Carnival to create a more globally recognisable identity.

Tell us about D&AD’s new Brand Identity Refresh award category?

“This year, I’ve been reflecting on two words: origin and originality, because they are closely related. To create something fresh yet authentic, it must be connected to your origins in some way. I believe that the idea of a brand identity refresh aligns with this perspective. To truly resonate as “refreshed” with others, it’s crucial to remain connected to your roots.

In branding, the focus is always more on evolution than revolution. We appreciate originality and ideas that break through the noise, but a brand refresh is like a therapy session. You really need to go deep and try and understand yourself; only then can you express yourself in a different way.

‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022

How would you approach a brand identity refresh at Tátil Design?

“From my perspective, when it comes to brand refreshes, the most important aspect isn’t the design — it’s the strategy. Design serves to support and enhance the strategy. The right moment for a brand refresh is when an organization is ready to move in a new direction and embrace new perspectives.

Branding is not just a function of the marketing department; it’s a strategic tool that should be utilised by the CEO to align the entire organisation toward a common goal. With my 35 years of experience, I’ve seen how this approach has become increasingly relevant.

I believe there are four key dimensions to consider in branding. The first is culture — your people. It’s impossible to build a strong brand solely through external communication. We need to start by engaging our team to ensure they understand and align with the core ideas, concepts, and vision. It’s essential that everyone is rowing in the same direction.

The second dimension is your products and services. These are the primary expressions of your brand.

The third dimension is communication. Are you effectively conveying what your services are and who you are?

If the first three dimensions are well-defined, the final dimension will naturally fall into place: the symbolic aspect. This involves shaping how your brand occupies space in the minds and hearts of people.

‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022

Give us an example of a great brand identity refresh?

“A few years ago, we undertook a complex project for Petrobras, a Brazilian petroleum company. They needed to change their identity as they transitioned from a traditional oil company to an energy company focused on renewable sources like wind and solar. Changing a company’s name is challenging because it’s essential to preserve its essence while also signalling its future direction. Petrobras is one of the most recognizable brands in Brazil, with its logo prominently displayed at many gas stations. Our challenge was to maintain the strong connection people had with the brand while also marking the beginning of a new era. The name we created was “Vibra,” which means “vibration” in Portuguese. This name not only connects to the vibrations of the heart and energy but also retains the “BR” from the original name, ensuring continuity while signalling their transformation.

We also created a refreshed visual identity for Rio Carnival, to help this amazing expression of Brazilian identity to become more global. We conducted more than 7,000 interviews to understand what to use as the main icon, which ended up being the flag, which felt authentic and informed by the Samba community but is also widely understood. 

Ficha Técnica

Texto:
Fred Gelli 

Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido e Natália Silveira

Assessoria:
Flávia Nakamura

PROTAGONISMO DE MARCA

02.2020

Já somos mais de 7 bilhões de habitantes em um planeta raro e com apenas 13.700 mil quilômetros de diâmetro. Uma “casa” pequena, com recursos finitos, que vem sendo explorada de maneira agressiva e irresponsável por tempo suficiente para que muitas das consequências representem impactos difíceis de serem contornados. Não se tratam apenas de problemas ambientais.

Estamos de fato diante de um grande desafio evolutivo como espécie. Os modelos econômicos existentes, que dependem do uso irracional dos recursos naturais e do consumo exacerbado, que só ampliam as desigualdades, nos colocam na posição de termos que reinventar nosso modo de vida como um todo. E isso, claro, é um enorme desafio técnico, econômico, político e ético. Mas também é uma incrível oportunidade criativa. Novos produtos mais sustentáveis terão de ser desenvolvidos, o lixo terá de ser “desinventado”, consumidores evoluirão para “desfrutadores”, novos serviços que garantam ocupação para quem não estiver habilitado para a evolução da economia digital terão de ser criados, novos materiais e processos serão desenvolvidos. Tudo isso para que a humanidade siga seu caminho evolutivo na direção de um mundo mais justo, diverso e sustentável.

Acreditamos que mais do que os governos, que, claro, devem seguir com seu papel de mediadores do bem comum, é o mundo dos negócios que reúne as condições e as competências fundamentais para dar conta desse enorme desafio sistêmico. O mercado é a instituição mais poderosa do mundo, e o negócio é a entidade mais poderosa dentro dele. Os negócios transcendem as fronteiras nacionais e possuem recursos que excedem os de muitos estados-nação. Os negócios são responsáveis pela produção dos edifícios em que vivemos e trabalhamos, pelos alimentos que consumimos, pelas roupas que vestimos, pelos automóveis que dirigimos, pela energia que os impulsiona e pela próxima forma de mobilidade que os substituirá. Isso não significa que apenas empresas possam gerar soluções, mas com seus incomparáveis poderes de ideação, produção e distribuição, os negócios estarão mais bem posicionados para trazer a mudança na escala da qual precisamos.

Mas como sempre acontece na história evolutiva, não são todos que terão a capacidade de se reinventar. Na verdade, a grande maioria dos negócios desafiados acabará extinta.Sinais relevantes vem sendo dados de que as velhas praticas estão ameaçadas. A Carta de Larry Fink, CEO do Black Rock, maior fundo de investimento do mundo, definindo a sustentabilidade como filtro para a alocação dos 7 trilhões administrados por eles, ou mesmo a tônica do Capitalismo do Stakeholders explorada profundamente no fórum econômico de Davos desse ano, coloca com clareza que a ditadura dos resultados trimestrais não podem prevalecer sobre os objetivos sustentáveis de longo prazo. Não ha trade-off entre preservação e desenvolvimento. Preservação da lucro. E dará cada vez mais.

A oportunidade e o desafio de construir marcas fortes, relevantes, torna-se uma ciência completamente nova. As expectativas das pessoas se movem mais rapidamente do que as marcas, e a tecnologia ainda mais rapidamente do que as pessoas.

No passado, em um cenário de menor concorrência e grande concentração de audiências em mídias, como jornais e canais de TVs, bastava investir pesado no horário nobre com ideias poderosas vindas da publicidade para abrir espaço na cabeça — e quem sabe — no coração dos espectadores.

Hoje, com a pulverização absoluta, nem que as marcas queiram, conseguem “comprar” o tempo das pessoas para suas mensagens. Os seis segundos que nos separam dos vídeos que queremos assistir no YouTube parecem uma inconveniente eternidade, gerando antipatia por marcas que insistem nessa estratégia. Influenciadores digitais que pareciam um novo canal de conexão também não vão longe, quando sua espontaneidade dá lugar a ofertas cada vez menos disfarçadas.

Para complicar ainda mais, nunca foi tão fácil experimentar novas marcas e novos produtos, fazendo da lealdade de marca artigo raro. Não existe jogo ganho para ninguém, especialmente quando falamos das novas gerações. Suas relações com marcas seguem novos padrões cada vez mais ligados à percepção que tem dos compromissos éticos e atitudinais das empresas. Marca e negócio não podem mais ser tratados separadamente. O que você faz tem de estar em sintonia com o que você fala. Negócios são cada vez mais sobre confiança e coerência, e não apenas sobre produtos e serviços.

Nessa nova arena competitiva, apenas os mais ousados, conscientes, centrados em suas competências essenciais — e não apenas nos produtos e serviços que entregam hoje –, os que investem a médio e longo prazos em inovação e os que conseguem manter uma cultura forte e exuberante para dentro e para fora da companhia terão a capacidade de garantir seu espaço no processo evolutivo, contribuindo decisivamente para a reinvenção do nosso modo de vida. São essas empresas que assumem seu papel na construção de um futuro desejável, que chamamos de marcas PROTAGONISTAS.

Elas não fazem esse movimento apenas por conta da ampliação de consciência das lideranças ou mesmo pelas responsabilidades corporativas. Fazem também por instinto de sobrevivência, pois sabem que, se quiserem garantir seu espaço em um novo cenário, precisam ajudar a construí-lo. E nessa hora se habilitam para pegarem para si um quinhão dessa incrível oportunidade de, à luz de uma revolução tecnológica sem precedentes, desenharem novos negócios, novos produtos e serviços, que tenham a capacidade de contribuir com a regeneração do meio ambiente, propondo novos estilos de vida e gerando valor compartilhado.

As marcas PROTAGONISTAS não são necessariamente os maiores negócios ou mesmo líderes de suas categorias, mas são as mais admiradas, as que inspiram as pessoas, as quem têm a capacidade de atrair novos talentos. São as que se mantêm relevantes não apenas por sua força política ou corporativa, mas por sua capacidade de inovar respondendo com agilidade às demandas do mundo. São as que cuidam de suas expressões com total coerência estratégica e compromisso com suas verdades, onde cada ponto de contato, cada experiência com produto, comunicação, eventos etc. devem ser potentes e engajadoras, construindo percepção de valor, de identidade, consistência, mas acima de tudo coerência com suas crenças e posições.

Marcas protagonistas são as organizações que vão superar o desafio evolutivo driblando o risco de extinção através da capacidade de fazer uma jornada fluida, orgânica com as pessoas, levando com muita empatia e coragem a capacidade de se sintonizar com as verdades humanas que lhes cabem servir a partir de seu lugar de potência.

LUGAR DE POTÊNCIA

Significa a capacidade de garantir um alinhamento fino entre suas competências essenciais e as novas demandas do mundo. Como competências essenciais, nos referimos a uma combinação de competências técnicas ligadas não só diretamente às entregas de produtos e serviços, mas também à força da cultura da empresa, suas crenças e seus valores.

De um modo geral, esse alinhamento passa por uma revisão de sua vocação original que, atualizada, tem a capacidade de responder a um novo conjunto de demandas das pessoas. Esse é seu LUGAR DE POTÊNCIA. Ele é dinâmico e precisa ser constantemente revisado, pois tanto as competências essenciais evoluem quanto os desejos humanos se transformam. Mas a força do link original e da razão de existir de cada negócio garante a conexão com as verdades da marca.

MOVIMENTOS DE IMPACTO

Uma marca que consegue mapear com clareza seu LUGAR DE POTÊNCIA passa a ter uma bússola calibrada para orientar seus movimentos estratégicos em todas as dimensões do negócio, garantindo otimização de recursos e poderoso sentimento de alinhamento nos colaboradores, começando pela alta liderança.

Esses movimentos sinérgicos são os MOVIMENTOS DE IMPACTO, que, quando promovidos de forma sistêmica na empresa, abrem espaço para a construção do PROTAGONISMO DE MARCA.

De uma nova política de RH às decisões ligadas ao pipeline de inovação, das estratégias de comunicação à relação com os investidores, todas as áreas da empresa são impactadas e passam a operar diretamente influenciadas pela força e pela pertinência do seu lugar de potência. E nessa hora, ampliam significativamente sua capacidade de gerar resultados para todo o ecossistema do qual fazem parte.

Acima de tudo, marcas protagonistas são as que colocam as pessoas no centro de suas atividades. Ser protagonista é uma missão coletiva. Só a soma de energias e competências tem o poder de transformar um negócio.

Nesse momento tão importante, entendemos que mais do que nunca, nosso LUGAR DE POTENCIA é concentrar toda a nossa capacidade criativa e estratégica, nossa paixão por sustentabilidade, biomimética, design, negócios, branding e inovação e colocá-los a serviço das marcas que estão dispostas a encarar o desafio de evoluírem nessa direção.

Queremos ser parceiros no dia a dia das PESSOAS que estão liderando essa jornada evolutiva dentro das empresas. Jornada que não será curta e nem para todos. Jornada que está exigindo a capacidade de nos reinventarmos a partir da nossa razão de existir que começou lá atrás, em 1989, sempre somando competências técnicas a muita energia e paixão.

Paixão pelo que acreditamos, paixão pela oportunidade de participar ativamente do que está por vir. Vamos juntos?

Ficha Técnica

Narração:
Fred Gelli 

Imagem de Capa:
Gabriel Mendes

Trilha Original, Captação, Edição de áudio:
Felipe Habib – Oitooito estúdio

Comunicação e Mkt. :
Luiza Magalhães, Natália Silveira e Marcelo Cândido

Assessoria:
Flávia Nakamura

Fast Company Brasil:
Mari Castro 

Credit: Work by Gabi Gelli - Ressignificação, 2019

RIW e o Paradoxo da Escolha

10.2023

Artigo de Juliana Barreto

Essa semana eu tive o privilégio de estar no RIW — e eu poderia aqui fazer um compilado de tendências, falar sobre os stands, palestrantes, … Mas vou preferir fazer uma abordagem um pouco diferente inspirada por um papo que tive a sorte de ter com o Felipe Aguiar (que foi comigo) e com o Ricardo Bezerra (para quem contei essa história e me deu o insight para o post de hoje).

Há bastante tempo ouvi falar sobre um negócio chamado “Paradoxo da Escolha” e a experiência de um FOMO* acontecendo ao vivo somado a um entorno de pessoas registrando todos os momentos do evento em seus celulares desde o primeiro passo ao entrar e em todos os símbolos possíveis do RIW para serem postados ao vivo em suas respectivas redes sociais me deixou super reflexiva e paralisada. Mas vamos voltar um pouquinho: Paradoxo da Escolha fala justamente sobre como nós congelamos frente a uma quantidade enorme de coisas que poderíamos escolher. A ideia de termos mais opções deveria nos deixar animados, porém, frente a pressão pela escolha de um entre tantos, fixamos nossas mentes na perda e não no ganho. Famoso: “A cada escolha, uma renuncia”.

Não é a toa que lojas com um número enorme de items ajuda seus compradores com um “quem comprou, comprou também”, que streamings tem o “Recomendados para vocês” ou “porque você viu… pode gostar também” e outros tantos recursos que, para além de tentar nos manter engajados mais tempo ou fazer novas compras, também tenta facilitar nosso processo decisório e nos deixar mais tranquilos em relação a nossas escolhas.

Dito isso — a RIW foi um grande paradoxo da escolha na prática para mim: muitos armazéns, com muitos stands, muitas palestras simultâneas, com muita gente no entorno tornando toda e qualquer decisão sobre o que ver super complexa deixando ali um gosto amargo de estar perdendo algo e simplesmente não estar “fazendo direito” rs. Mesmo tendo segmentações por temas de interesse não foram suficientes para me acolher em uma navegação confusa pela experiência, cheia de estímulos por todos os lados.

“Ai, Ju. Mas tinha app, tinha programação online, tinha sinalização, segmentação por temas” E, realmente, tinha tudo isso. Mas era MUITA coisa ao mesmo tempo a ponto de terem 3 palestras diferentes acontecendo dentro de um mesmo pavilhão. Como não trava? Dito isso, bora pensar mais sobre como facilitar as escolhas de quem está ali vivenciando sua experiência de marca?

Aproveitando: obrigada Tátil Design por me proporcionar essa ida ao evento e a reflexão de como podemos sempre pensar em melhorar as experiências de marca no dia a dia.

*FOMO — Fear of missing out

Ficha Técnica

Texto:
Juliana Barreto

Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido e Natália Silveira

Assessoria:
Flávia Nakamura

Credit: Work by Gabi Gelli - Ressignificação, 2019

O desafio de criar o primeiro tênis da era pós-petróleo

10.2023

Artigo de Fred Gelli

Faz parte do DNA da Tátil. Desde o início da nossa história, a natureza é vista como uma fonte de soluções estratégicas inspiradoras que aponta novos caminhos mais inteligentes e sustentáveis. Por isso, temos um carinho muito especial por este projeto que fomos convidados a participar.

A VERT — conhecida lá fora como Veja Shoes — nos chamou para desenvolver um projeto de biomimética para o primeiro tênis esportivo da marca. Um tênis da era pós-petróleo, que considera toda cadeia sustentável já utilizada pela marca, desde o uso de materiais que causam baixo impacto ambiental até a sua produção, que é toda realizada aqui no Brasil.

O processo foi coletivo e reuniu um time criativo de designers, estrategistas, além de uma bióloga especialista no assunto. O trabalho de pesquisa sobre animais da Amazônia nos levou a um cruzamento surpreendente de referências, materializado na inspiração dos pássaros da região.

Assim nasceu Condor. Um tênis esportivo que une novas tecnologias e leveza. Com formas belas e inovadoras, desenhado para ser sustentável. Um projeto de uma marca que faz com propósito e conquista protagonismo dentro do seu segmento.

OS ANIMAIS VELOZES DA FLORESTA AMAZÔNICA

Um solado inspirado em ossos de pássaros

Para poderem voar sem se cansar, as aves precisam ser o mais leve possível. É por isso que todos os pássaros possuem os ossos ocos, cheios de ar. São compostos de uma estrutura trabeculada, que os mantêm resistentes e leves ao mesmo tempo. A partir dessas tô conexões e de uma das principais características dos tênis esportivos, que é a sua performance, chegamos ao desenho e estrutura do solado.

O resultado é um tênis que reduziu de 99% para 53% a quantidade de plástico na sua composição, que é feita de borracha nativa da Amazônia, algodão orgânico, juta, garrafas plásticas recicladas, óleos de banana e mamona, cana-de-açúcar e casca de arroz.

Condor é o primeiro passo da VERT em direção ao mundo da corrida. Um ganho enorme dentro do segmento onde o design atua como uma lente no mundo dos negócios, unindo brilho criativo e precisão estratégica.

Ficha Técnica

Texto:
Fred Gelli 

Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido e Natália Silveira

Assessoria:
Flávia Nakamura