‘Rio Carnaval’: Yellow Pencil winner in Typography and Wood Pencil winner in Branding at D&AD Awards 2022
Propósito com propósito
(uma reflexão sobre marcas)
06.2025
Artigo de Juliana Barreto (Diretora de Revenue) para o Meio & Mensagem
Article by Juliana Barreto (Revenue Director) for Meio & Mensagem
Texto em Português e Inglês
Text in Portuguese and English
[PT]
Assim como a Paula Marchiori — estrategista de branding e ESG com quem tive o prazer de trabalhar por alguns anos — e tantos outros autores, também me pego questionando essa busca incansável pelo tal “propósito” nas empresas. Não que eu desacredite do valor de um propósito genuíno, muito pelo contrário. O que me incomoda é essa obsessão por tê-lo a qualquer custo — porque, se é preciso forçá-lo, talvez ele não seja tão verdadeiro assim. Concorda?
Este ano tive o prazer de começar a dar aulas em um curso de pós-graduação em branding, na disciplina de estratégia de marca. E chegou o dia de abordar o conceito de “propósito” com a turma. Simon Sinek na tela, sua famosa citação projetada: “Quando sabemos por que fazemos o que fazemos, tudo se encaixa. Quando não sabemos, temos que forçar as coisas para se encaixarem.” Olhos atentos. Um “ain, eu amo o Simon” ecoa pela sala.
E eu, ali na frente, já sabia que nas próximas telas viria o questionamento. Será que é mesmo por aí? Será que todas as marcas têm um propósito?
O sucesso do Comece pelo porquê, de Simon Sinek, aliado à tendência (ou melhor, valor) de uma geração que busca por propósito — tanto pessoal quanto nas marcas que consome — desencadeou uma enxurrada de propósitos de todos os tipos. Propósitos para marcas, para produtos, para campanhas. Como se bastasse ter uma frase de efeito para que tudo magicamente se alinhasse. Como se qualquer marketing de causa bastasse para fazer um propósito ser visto como verdadeiro — ignorando o óbvio: propósito se constrói no dia a dia. Ele vive na comunicação, nos produtos e serviços, na cultura interna. Não é simples ou trivial ter propósito.
Mas é possível ter um propósito mesmo depois de a empresa já estar em operação? Lógico que sim. Mas isso exige um exercício genuíno de olhar para dentro, revisitar práticas, valores, a origem, o jeito de fazer as coisas. Não se trata de inventar um propósito do zero e, sim, de reconhecer o que já está na essência da empresa — ainda que informalmente — para, então, lapidar e amplificar isso.
Patagonia e Ben & Jerry’s são exemplos sempre citados, justamente porque, ao revisitar suas origens, o “porquê” já estava lá. E elas seguem, com coerência entre discurso e prática — embora até elas escorreguem, vez ou outra. De novo: não é fácil.
Terminei esse capítulo da aula com o que realmente acredito: nem todas as marcas precisam ter um propósito, mas todas precisam ser responsáveis. Ter propósito é um exercício diário, que exige ações alinhadas para que esse propósito se concretize no mundo. Por isso, Sinek diz “Comece pelo porquê”, e não “Faz aí o que der e depois a gente encontra um propósito num retroplanning brainstorm criativo” (inclusive, esse título, além de enorme, dificilmente venderia tanto).
Num mundo que clama por ações com impacto consciente, é preciso estar atento. É nosso papel — como estrategistas, designers, profissionais de marketing e todos que atuam com marcas — garantir que as recomendações nos projetos ajudem empresas a tomar decisões melhores. Seja para manter propósitos vivos e coerentes, seja para manter marcas responsáveis pelo que colocam no mundo.
[EN]
Purpose with Purpose
(a reflection on brands)
Just like Paula Marchiori — a branding and ESG strategist I had the pleasure of working with for a few years — and so many other authors, I also find myself questioning this relentless quest for “purpose” in companies. It’s not that I doubt the value of a genuine purpose; quite the opposite. What troubles me is the obsession with having one no matter what — because if it has to be forced, maybe it isn’t that true after all. Do you agree?
This year I had the pleasure of starting to teach a postgraduate branding course, leading the brand-strategy class. The day came to discuss the concept of “purpose” with the students. Simon Sinek on the screen, his famous quote projected: “When we know why we do what we do, everything falls into place. When we don’t, we have to force things to fit.” Eyes glued to the slide. A soft “aww, I love Simon” echoes through the room.
Standing there, I already knew the question would surface on the next slides: Is that really the way? Do all brands need a purpose?
The success of Start With Why by Simon Sinek, coupled with a generation’s craving (or rather, value) for purpose — personally and in the brands they consume — unleashed a flood of all kinds of purposes. Purposes for brands, for products, for campaigns. As if a catchy phrase were enough to magically align everything. As if any cause-marketing effort could make a purpose appear true — ignoring the obvious: purpose is built day by day. It lives in communication, in products and services, in internal culture. Having purpose is neither simple nor trivial.
But is it possible to define a purpose after the company is already up and running? Of course it is. Yet it demands a genuine exercise of looking inward — revisiting practices, values, origins, the way things are done. It isn’t about inventing a purpose from scratch; it’s about recognizing what is already embedded in the company’s essence — even informally — and then refining and amplifying it.
Patagonia and Ben & Jerry’s are perennial examples precisely because, when revisiting their origins, the “why” was already there. They continue with coherence between speech and practice — though even they slip now and then. Again: it’s not easy.
I ended that class segment with what I truly believe: not every brand needs a purpose, but every brand must be responsible. Purpose is a daily exercise, requiring actions that give it concrete form in the world. That’s why Sinek says “Start with why,” not “Just do whatever and we’ll brainstorm a retro-planned purpose later” (besides being huge, that title probably wouldn’t sell as well).
In a world that clamors for actions with conscious impact, we must stay alert. It’s our role — as strategists, designers, marketers, and everyone who works with brands — to ensure that our project recommendations help companies make better decisions. Whether to keep purposes alive and coherent, or simply to keep brands responsible for what they put into the world.
Ficha Técnica
Texto:
Juliana Barreto
Comunicação&Mkt&Marca Tátil:
Luiza Magalhães, Marcelo Cândido e Pedro Melo
Assessoria:
Flávia Nakamura